31.7.09

amizade


LOUCOS E SANTOS


(não é de Oscar Wilde)


 


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.


Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.  


A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.  


Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.  


Deles não quero resposta, quero meu avesso.  


Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.  


Para isso, só sendo louco.  


Quero os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
 


Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.  


Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.  


Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.  


Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.  


Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.  


Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de prendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
 


Não quero amigos adultos nem chatos.  


Quero-os metade infância e outra metade velhice!  


Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.
 


Tenho amigos para saber quem eu sou.  


Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.



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