6.8.12

Sempre brilhante


Não noto nenhum problema, vejo que você absolutamente não deseja namorar. Não é exigente, mas excludente. Exigente é o que avalia as possibilidades e tenta, mas você descarta as hipóteses antes de experimentar.

A paixão platônica é um modo de manter o desejo ocupado e não ser importunada pelos apelos da realidade. Como deseja um sujeito em sua imaginação, não pode se interessar por um homem próximo. É uma fidelidade de faz-de-conta, que elimina o trabalho de conhecer alguém de verdade. 

Namoro é ensaio, é pisar no pé para roçar as pernas, chutar o ar para criar nova dança, é cometer gafes e rir e se atrapalhar. Todo apaixonado é gago, confuso, estranho, de péssimo desempenho social. O amor vai perdoando o nervosismo pela vontade de aprender diferente.

Para que aconteça o namoro, deve errar. O primeiro passo para namorar é fracassar, desativar os alarmes de proteção, esquecer o que sabia sobre o amor. Por isso as bebedeiras são os melhores cupidos.

Namorar é oferecer a chance para aquele que não atende às nossas expectativas. É romper a idealização e ampliar nossa curiosidade sobre o mundo.

Enquanto esperar o par de fábrica, Cinderela, ficará descalça.

Mas entendo que sua rejeição é preventiva. Tem medo da avaliação alheia. Não se gosta, não se acha ideal e acredita que qualquer um sentirá a mesma aversão. 

Aceita ficar na balada desde que não desenvolva amizade no dia seguinte. Elimina o contato para não ser recusada depois. Você, certamente, não deseja namorar consigo.

A pergunta é outra: o que considera em si abominável a ponto de fugir da convivência amorosa?

Abraço com todo afeto,
Fabrício Carpinejar

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