6.11.09

O Fédon


o julgamento de Sócrates

 


 


imagem de Sócrates recebendo cicuta, gravura de Chodoviecki 1726-1801


O Filósofo grego, Sócrates, foi condenado pelo tribunal à pena de morte por ter sido injustamente acusado de corromper a juventude e não adorar alguns deuses.
Pela tradição grega, os condenados à morte bebiam a cicuta, mas só o poderiam fazer depois do pôr do sol. No último dia de vida, esperando que o sol se pusesse no horizonte, Sócrates põe em dia as últimas palavras com os seus discípulos que se encontravam com ele nessa tarde dramática na prisão.


Fédon trata dos últimos ensinamentos de Sócrates.


Em Fédon, Platão trata de suas idéias sobre a alma. Para ele, a alma era imortal, indestrutível. Os discípulos estão perplexos com a tranqüilidade de Sócrates diante da perspectiva da morte. O filósofo explica porque o verdadeiro amante da sabedoria não pode temer a morte. A vida é uma prisão para o espírito,  e o homem não tem direito de libertar a si mesmo. Como a alma é imortal, a morte equivale a uma libertação e seu destino para os que se dedicaram a purificar-se, é um mundo melhor em companhia dos Deuses e das pessoas que foram melhores do que ele. Para os maus, é uma punição antes da volta à vida através de outro corpo.


Filosofar é preparar-se para a morte, pois a alma se separa do corpo e fica livre para atingir a verdadeira sabedoria. O corpo, através dos sentidos, nos engana com suas sensações e prazeres. É impossível obtermos qualquer conhecimento puro enquanto a alma estiver unida ao corpo, pois é confundida por ele. A purificação consiste em apartar-se cada vez mais do corpo e este é o exercício do filósofo.


Eis o que deve pensar meus companheiros, um filósofo, se realmente é filósofo;  nele há de existir a forte convicção de que em parte alguma, a não ser num outro mundo, poderá encontrar a pura sabedoria.


Platão também apresenta a teoria dos contrários ou seu Princípio da Geração. O maior só existe porque antes foi menor, o mais forte só existe porque antes foi mais fraco, a vida só existe porque antes havia a morte. “É das coisas contrárias que nascem as coisas que lhes são contrárias”. Uma conseqüência é que os vivos provém dos mortos, assim como os mortos provém dos mundos, implicando na imortalidade da alma.


Platão trata também de sua teoria do conhecimento. As almas, antes de unirem-se ao corpo, possuem o conhecimento das coisas em si, pois a contemplam no outro mundo. No nascimento, elas se esquecem do que sabem e através da vida, ao tomar contato com o que já conheciam, vão relembrando, aprender nada mais é do que recordar.


Para Platão, a alma se assemelha ao que é divino enquanto que o corpo aproxima-se do mortal. O corpo relaciona-se à alma através da servidão e obediência. A alma possui a capacidade de pensar, possui uma forma única e é indissolúvel enquanto que o corpo é desprovido de inteligência, multiforme e que está sujeito à decomposição.


O destino das almas, como é imortal, é a purificação. Para isso, é necessária a doutrina da reencarnação. A alma, ao separar-se do corpo, retorna para o mundo dos mortos onde é julgada por seus atos. Depois de um período de punição, retorna ao mundo dos vivos através de outro corpo até que atinja a purificação necessária para permanecer no outro mundo.


Que esteja poluída, e não purificada, a alma que se separa do corpo; do corpo, cuja existência ela compartilhava; do corpo, que ela cuidava e amava, e que a trazia tão bem enfeitiçada por seus desejos e prazeres, que ela só considerava real o que é corpóreo, o que se pode tocar, ver, beber, comer e o que serve para o amor; ao passo que se habituou a odiar, a encarar com receio e evitar tudo quanto aos nossos olhos é tenebroso e invisível, inteligível, pelo contrário pela filosofia e só por ela apreendido! (...) E quanto à espécie divina, absolutamente ninguém, se não filosofou, se daqui partiu sem estar totalmente purificado, ninguém tem o direito de atingi-la a não ser unicamente aquele que é amigo do saber!


Fédon é seguramente um dos livros mais importantes de Platão. Nele fica patente que para o filósofo, a alma é imortal e não pode ser destruída. Rejeita o mundo captado pelos sentidos como falso e um obstáculo para obtenção da verdadeira filosofia. O verdadeiro filósofo não pode temer a morte, pois esta nada mais é que a libertação de sua alma da imperfeição do seu corpo.


A filosofia de Platão é extremamente otimista, pois a imortalidade da alma nos garante que um dia chegaremos à purificação, como pode ser constato no seguinte trecho:


Uma vez evidenciado que a alma é imortal, não existirá para ela nenhuma fuga possível a seus males, nenhuma salvação, a não ser tornando-se melhor e mais sábia.


O homem pratica o mal por ignorância, por não ter conhecimento, não ter a sabedoria. Através da filosofia, se purifica cada vez mais, atingindo então a bondade absoluta e seu descanso junto aos deuses e espíritos perfeitos.


 

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